E aqui vão uns poemas extraídos do meu velho blog
Heráclito-nietzscheana
Só a impermanência é duradourao perecimento é eterno
o ser não há de ser nada de ser nada de ser
o si é outro de ser si mesmo
bem e mal alternando-se e invertendo-se incesssante-mente
o amor é ausência de dor
a dor é a cor a bordo de auréolas flamejantes
E só.
P.S.: Um po(p)ema que (se) justifique um dia ou toda uma vida.
Wittgensteiniana
Não é estranho
que haja um número tal
o qual a si mesmo somado ou
por si mesmo multiplicado
dê o mesmo resultado?
Será que estaria aí algo a ser
descoberto
sobre a natureza dos números ou
das operações matemáticas?
E para fazer tais descobertas,
ajudaria verificar que
o número anterior,
somado a ele resulta no número
posterior
e por ele multiplicado
tem a si como resultado?
E que seja zero o próximo
número na escala descendente
assim como idêntico será o
resultado
de toda soma e multiplicação:
infinito?
Identidade,
diferença,
vazio,
infinito:
poética
matemática.
P.S.: Imagine uma forma de vida
tão simples que não conhecesse números, mas apenas as palavras “pouco”, para
quantidades de até quatro unidades, e “muito”, para o restante. Não seria esse
um mundo mais feliz?
Fortaleza (Praia do
Mucuripe), 24.12.2008.
A(l)inda minha cidade.
Ah, essas manhãs, tardes e noites familiares da cidade
natal,
a continuidade de outras ancestrais que nelas estão ainda,
estando no mesmo lugar,
ouvir ainda o marulhar de ondas entre barulhos de uma cidade
agora grande e ainda selvagem,
lembrar do avô, postiço – padrasto de meu pai -, em nada parecido a um cauboi do faroeste, e
ainda assim de revolver na cartucheira, com seu olho verde, assustador,
postiço, de vidro – alvo de fraternal
tiro acidental (?) -, a vender urubus, louros postiços - nada mais que os de
sempre, carregados nas tintas -, perfeitamente à vontade, na praça da cidade
que era mais dele do que de qualquer outro de meus verdadeiros ancestrais,
rever as ruas que ainda têm os mesmos nomes de personagens
que então já eram desconhecidos e agora o são ainda, e ainda mais, mais ainda,
vagar ainda à beira-mar, por onde antes nada mais havia do
que areia, e agora calçadas conhecidas internacionalmente aplainam as
caminhadas inúteis dos endinheirados habitantes de envidraçadas colunas de
cimento, rigidamente enfileiradas, em patético pelotão...
e ainda olhar o mar, sentir o mar, beber o mar, até quase –
e por que não? - ainda afogar (ao sol ardente que na praia resseca, inocente,
seculares tartarugas marinhas, encalhadas misteriosamente).
Anônimo
(Um poema que encontrei na minha caderneta - mas juro que não fui eu quem fez, ou, pelo menos, que não me lembro...)
Sou um animal sentimental
me entrego facilmente
ao que desperta o meu desejo
Tente me obrigar o que eu não quero
e você vai ver o que acontece
Acho que entendo o que você quis me dizer
mas existem outras coisas
conseguir meu equilíbrio
cortejando a insanidade
Tudo está perdido,
mas existem possibilidades
Tínhamos a idéia,
mas você mudou os planos
tínhamos um plano,
você mudou de idéia
Já passou, já passou
Quem sabe outro dia
Antes eu sonhava
Agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe, é o que todo mundo sabe
Não me vem com egoismo
falávamos de amizade
Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho,
mas não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser brigar
Minha laranjeira verde
por que está tão prateada?
Foi a lua dessa noite
no sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo
parecido com soluço
Enquanto o carro segue em frente
com toda calma do mundo.
Poemicídio
(Esse é meu - mas não se assustem: é apenas um estado poético...)
Ficar só, não deixa de ser
Ficar só, não deixa de ser
uma forma de suicídio
“sócio-cídio”, “alter-cídio”, “si-cídio”
e se disso se faz um poema
se se faz um poema
só é poema
se digo ser poema
pois não há
poemicídio
e nem sou
poemicida.
Princípio antroentrópico
Princípio entrópico: tudo no universo tende à
desorganização.
Princípio antrópico: todo o
universo só faz sentido se tende à formação de seres conscientes, humanos.
Princípio antroentrópico: toda
organização no universo decorre da observação de seres conscientes,
desejantes, falantes, humanos.
Conclusão: só para esses seres há
mundo, vida, morte e tudo o mais que organizam, mesmo sem saber, pela
linguagem.
P.S.: Princípio enteotrópico: a
criação do verbo é divina, pois está além (e aquém) de toda compreensão.
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