terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Trabalho brilhante de ex-aluna de Introdução ao Direito da ECP-CCJP-UNIRIO sobre o texto anteriior


A AMEAÇA POLITICA DA AUTOPOIESE DO DIREITO NA SOCIEDADE MUNDIAL E AS MAZELAS DO PROCESSO GLOBALIZATÓRIO
Por Carolina Paula de Souza
            A filosofia nasceu da necessidade humana de problematizar a vida. Antes nos espantávamos e maravilhávamos com a aparente diversidade da vida, hoje é sua uniformidade que nos intriga.
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/3biologia/3embrio.jpg
            Edgar Morin e Ilya Prigogine defendem a superação do tradicional paradigma simplificador das ciências clássicas, modernas, em favor de um paradigma da complexidade, em que se inserem ciências transclassicas, pos modernas, como são a cibernética e a teoria de sistemas.
Luhmann
- substitui a contraposição entre sujeito e objeto, enquanto principio heurístico fundamental, pela diferenciação sistêmica, no mundo, entre o sistema e seu ambiente. Desubstancializada, não é fechado para e sim com o ambiente.
- desumanizada.
            A teoria em apreço pretende se desenvolver a partir de um conceito de sociedade que não é nem humanista nem regionalista, adotando assim uma posição que, de partida, evita dois dos maiores – se não forem mesmo os dois maiores – pressupostos incitadores da crise epistemo-ecologica. A sociedade não é formada pelos homens, o que a compõe é a comunicação entre os homens.
            A organização é o que qualifica um sistema como complexo ou como uma simples unidade, com características próprias, decorrentes das relações entre seus elementos, mas que não são características desses elementos. As mudanças se dao na estrutura do sistema, que é formada por elementos componentes do sistema relacionados entre si. Note-se que para a organização o que importa é o tipo peculiar de relação para que se tenha sistemas autopoieticos, como Luhmann propõe que se considere os sistemas sociais: a autonomia e a clausura do sistema.
            Sistema autopoeitico é aquele dotado de organização autopoietica, onde há a (re)produção dos elementos de que se compõe o sistema e que geram sua organização, pela relação reiterativa, circular (recursiva) entre eles. Esse sistema é autônomo porque o que nele se passa não é determinado por nenhum componente do ambiente mas sim por sua própria organização. Essa autonomia do sistema tem por condição sua clausura, quer dizer, a circustancia de o sistema ser fechado, do ponto de vista de sua organização, não havendo inputs e outputs para o ambiente.
            Só a comunicação autoproduz-se, donde se qualificar como autopoieticos os sistemas de comunicação da sociedade.
M.Bunge, características da fronteira dos sistemas:
- periférico em um sistema é o que ocorre em suas fronteiras;
- uma função especifica das fronteiras dos sistemas é proceder trocas entre o sistema e o meio;
- na fronteira encontramos os elementos do sistema que estão diretamente acoplados com componentes do meio ambiente.
GuntherTeubner
            “Mesmo as mais poderosas pressões so serão levadas em conta e elaboradas juridicamente a partir da forma como aparecem nas telas internas, onde se projeta as construções jurídicas da realidade. Nesse sentido, as grandes evoluções sociais modulam a evolução do Direito, que, não obstante, segue uma logica própria do desenvolvimento.”
Paradoxo da transformação da coerção em liberdade.
            H.V. Foerster e H.Willke dizem que o Estado de uma sociedade funcionalmente policentrica é formada por subsistemas sociais diferenciados (interdependentes) que se estruturam não de forma hierárquica, mas sim heterárquica, pois nenhum subsistema goza, a priori, de primazia em relação aos demais.
            Esta em causa a manutenção da autopoiese no sistema global, se nós considerarmos o sistema jurídico como propostos por Luhmann em “O Direito da Sociedade”, ou seja, como um tipo de sistema imunológico da sociedade, com a tarefa de vacina-la contra as doenças sociais que seriam os conflitos, através da representação desses conflitos em prescrições a serem seguidas pelas cortes, concebidas de maneira idealizada como imunes contra a politica. E o principal risco aqui mostra-se, então, como sendo o da auto imunidade, no sentido trabalhado por Derrida.
            A questão que se coloca, então, é de como sobreviveria um tal sistema, o sistema social global, que é a sociedade mundial, diante de um ataque por componentes dele mesmo, como para alguns ocorreria no setor financeiro do sistema econômico, diante do excesso de especulação, ou de cidadãos que ao invés de participarem politicamente por meio do voto optam por protestos cada vez mais violentos, ou quando pessoas se tornam suspeitas e, mesmo, praticantes do que se vem qualificando como terrorismo, sendo destratados como portadores de direito, na situação descrita por Giorgio Agamben com uma figura do antigo direito penal romano do homo sacer, que é a de uma vida puramente biológica e, enquanto tal, matável sem mais. A auto imunidade é uma aporia: aquilo que tem por objetivo nos proteger é o que nos destrói. O paradoxo da autopoiese do direito terminando em autoimunidade revela o paradoxo da inevitável circularidade do direito e suas raízes politicas.
            O sistema jurídico em escala global irá crescentemente reagir contra a diversidade e em fazendo isso irá minando os fundamentos mesmos da ambiência natural e cultural, humana.
DEMOCRACIA E GLOBALIZAÇÃO
            Uma vez Churchill disse que a democracia é o pior sistema, salvo os demais. Esta frase ganha sentido cada vez mais devido a ascensão das lutas pelo direito das minorias contra o autoritarismo democrático da maioria. Atualmente, a democracia não responde as exigências do mundo global, todavia, ainda não há um sistema para substitui-la.
            A democracia, como dizia Aristotéles, deveria e foi criada para ser aplicada em um pequeno espaço de terra. Num lugar onde as ordens só causariam impacto naquele local, mas a democracia é a mesma. Hoje as medidas tomadas em um local influenciam o mundo e diversas gerações, mas nós continuamos escolhendo políticos para lugares pequenos e por curtos períodos de tempo. O mundo é global e de longo prazo, enquanto a democracia é nacional e de curta duração.
            Necessitamos de um sistema politico capaz de incorporar nossa realidade: a realidade global.
            O primeiro passo para essa mudança é desvincular a ideia de que a globalização se resume a comercio somente.
            Exceto que aconteça alguma tragédia ecológica, social ou politica o comercio não voltará ao tempo das nações fechadas. O comercio internacional é a marca do contemporâneo e do futuro. Mas ele deveria vir acompanhado de uma solidariedade também internacional, com investimentos para superar a pobreza e para diminuir o numero dos excluídos das vantagens da modernidade global.
            Um sistema de governo global exige a combinação de democracias nacionais com a solidariedade internacional.
            O mundo não pode ser global na economia e manter a humanidade dividida. Definitivamente, não há democracia em um mundo que abre fronteiras para a entrada de produtos que aumentam o bem estar dos ricos e fecha fronteiras para as pessoas que estão fugindo da pobreza.
            Globalizar a riqueza para poucos e nacionalizar a pobreza para muitos é imoral.
            O mundo que antes tinha países desenvolvidos e outros subdesenvolvidos deu lugar para um mundo com países ricos com bolsões de miséria e países pobres com bolsões de riqueza. Destruímos o muro de Berlin e estamos construindo vários outros mas não separando as pessoas por suas ideologias, mas sim por suas contas bancarias.
            Neste passo levaremos o mundo a uma ruptura biológica: ricos vivendo mais, saudáveis, instruídos; e pobres sem acesso nem a saúde nem a educação.
            Primeiramente, temos que entender que a redução da pobreza não decorre do crescimento econômico. E pior, pode ate agrava-la, fazendo crescer a desigualdade. E o fim da pobreza também não será conquistado pela solidariedade generosa da OTAN.
            Temos que lançar um imenso programa mundial pela educação e pela saúde, que gere empregos nos países pobres com atividades diretamente ligadas a saúde e a educação, além de apoio as economias locais. Temos que fazer isso ao invés da solidariedade egoísta pela qual a doação melhora a vida do doador e não a vida de quem recebe a doação.
            Alguns subsídios sociais tentam diminuir a pobreza, o Bolsa Escola (atual Bolsa Familia) no Brasil e o Progresa (atual Oportunidad) no Mexico, tentam financiar a continuidade das crianças na escola. O dinheiro ajuda a família a sair do estado de miséria total e da a criança a chance de crescer e sair da pobreza no futuro.
            O livro India from midnight to the milennium de ShashiTharoor descreve como pequenos instrumentos de apoio aos pobres conseguem aumentar a inclusão social e dimunuir a pobreza.
            Uma outra forma de ajuda ocorreu quando a Espanha perdoou parte da divida da Argentina desde que esta quantia fosse investida em educação.
            Não há como entender o livre transito de mercadorias e tantas barreiras para o transito de pessoas. O mundo não será global enquanto houver xenofobia e forte discriminação contra a migração. Na fronteira México-Estados Unidos morrem mais pessoas por ano do que morreram em toda historia do muro de Berlin. Isso prova que ser pobre é muito mais perigoso do que ser um transgressor. Prova que atravessar a cortina de ouro, o muro da vergonha é mais caro que atravessar a cortina de ferro.
            O custo que os Estados Unidos gastam para pagar os militares que vigiam a fronteira daria para pagar Bolsa Escola para todas as famílias de Honduras, talvez com isso eles desistiriam de abandonar seus filhos para tentar a vida na America.
            Lutar contra epidemias, fome e analfabetismo é também uma luta em favor dos avanços tecnológicos. Os avanços da globalização são ou deveriam ser em prol de toda a população.
             O acesso a cultura sempre foi o objetivo da humanidade. Entretanto a globalização busca manter o mundo sob uma única cultura. E a cada dia estamos perdendo mais e mais de nossa riquíssima cultura para uma unificada. Os processos de colonização, neoimperialismo e globalização, dizimaram e estão dizimando culturas e tradições e isso empobrece a humanidade. A globalização não pode desrespeitar a diversidade e destruir patrimônios. Os Estados Unidos e alguns países europeus fazem isso naturalmente, pregam uma democracia arcaica etnocêntrica ligada exclusivamente ao consumo.
            Para ser global, o mundo deve ser mais tolerante: nem todo mulçumano é homem bomba, nem todo africano passa fome, nem todo dia é carnaval. E principalmente, não salvamos nem libertamos pessoas bombardeando seus países. Estamos lutando por uma democracia e não por uma ditadura global. Há países do Oriente Médio que são verdadeiros campos de concentração. A tolerância é o instrumento fundamental para a pacificação mundial. Mas esta não é numa mudança automática, levará anos e esforço global.
            A falta de tolerância nos leva a um mal: a violência. A violência é a negação da democracia.
            Todavia a globalização globalizou uma coisa: a destruição do planeta. Diferente da depredação local hoje o mundo se destrói totalmente. Somos tão egoístas que seremos capazes de extinguir a vida na Terra.
            Não é possível pensar em um planeta e fazer uma politica global ignorando tudo que não seja ser humano. Não podemos usufruir vorazmente até ver o esgotamento de nossas reservas. Por isso digo que também não há globalização democrática se não pensarmos nas futuras gerações.
            A globalização também gerou uma crise dos valores morais. Um exemplo grosseiro: os Estados Unidos não tem a autoridade moral para impedir que alguém tenha energia nuclear ou bombas atômicas.
            Devemos tratar a Terra como um grande condomínio, cada país é dono de sua propriedade e deve respeitar regras para viver bem com todos os moradores.
            “A ética global não se espalhará enquanto a politica não der um salto além das fronteiras de cada país.
            Só uma hipotética democracia planetária faria surgir partidos internacionais. A experiência da internacionalização comunista se mostrou como instrumento internacional para servir ao projeto da URSS. As outras tentativas de internacionalização se limitam apenas a fóruns de debates políticos com posições afim.”


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